Pages

domingo, 5 de abril de 2009

Diário escolar

"Meu nome é R. Tenho 25 anos e sou professor de um colégio público de São Paulo. Dou aula de matemática, história e química para os alunos de quinta a terceiro ano. Me desdobro em três para conseguir dar conta de tudo. Fico no colégio das sete da manhã as 15 para onze. Praticamente não tenho vida, vivo na escola. Estou nessa profissão há seis anos. Não gosto do que faço. Não tenho vontade de dar aulas para um bando de adolescente revoltados que pouco valorizam meu trabalho. Só conversam, fazem guerrinha de papel...chegam a se bater e a se machucar em sala. O que eu faço? Me finjo de morto, não vou comprar briga que não é minha. Querem se matar sintam-se a vontade, eu estou ali tentando fazer minha parte. O problema só me cabe quando me envolve. Já apanhei de um dos alunos. Levei um soco no olho que me deixou usando ocúlos por semanas. Já sofri ameaças de morte tão graves a ponto de ter um revolvér apontado para minha cabeça. Coisa corriqueira, já nem me incomoda tanto. Afinal cada dia é um episódio um pouco pior, estou ficando acostumado. Não há mais uma relação de respeito ali. Para ser sincero eu acho mesmo que nunca houve. Eu não os respeito quando não me interponho entre as brigas, quando não passo a eles o conteúdo que deveria, quando não os ensino a crescer, a viver. Esse seria o meu papel! Além de formá-los academicamente, eu os deveria formá-los cidadãos. Mas quem consegue? Baixo sálario, excesso de aulas, cansaço, ameaças...isso não anima ninguém. Eles? Eles não me respeitam quando fingem que não estou ali. Quando me agridem verbal ou fisicamente. Quando conversam na aula e não prestam atenção no pouco que tento passar. Quando dizem que não valho nada e só estou nessa vida porque não consegui algo melhor. Eles tem razão. É dificil admitir e mais dificil ainda é mudar. A falta mútua de respeito já atingiu um nível que eu, sinceramente, não sei como parar. Eles não tem perspectiva de futuro, eu tão pouco. Já cruzei os braços e eles lavaram as mãos. Será que algum de nós ainda terá vontade e força suficiente para corrigir esse quadro? Meu nome é R., sou professor e , infelizmente, já desisti de tentar mudar o mundo".


Post para o TDB da edição 1069 com o tema: Mas respeito aos professores?

Nenhum comentário: