Apagaram-se as luzes. O picadeiro da minha vida está silencioso. Eu vejo risos, alegria e faço uma multidão rir. Coloco cores no rosto e levo essas mesmas cores para dentro da vida de tantas outras pessoas. Mas aqui dentro? Aqui dentro não há cor, não há vida. O palhaço tira a máscara, limpa o rosto. Chora a lágrima sobre a boca que acabou de fingir um sorriso. Meu picadeiro está vazio. Não posso ouvir nada. Não posso sentir nada. Nem meu coração, o velho coração insistente, eu consigo ouvir mais. Ensurdeci, emudeci, empalideci. As cortinas que teimam em se abrir anunciando um novo espetáculo, só me obrigam a segurá-las cada vez mais forte. Não quero um novo um começo porque, tão pouco, quero um novo fim. Já encerrei minha participação na novela, no teatro da vida e agora quero minha merecida paz, meu descanso. As roupas coloridas já ficaram pelo chão. Junto delas deixo tudo: agonia, solidão, rancor. Visto preto, visto branco. Visto meu luto e minha paz. Não resta mais tinta, não restam mais sons, não resta mais nada. Só um picadeiro vazio e um palhaço esquecido pelo tempo que já não ri, que já não chora, que já não sente...
Ah, o mundo sempre foi
Um circo sem igual
Onde todos representam bem ou mal
Onde a farsa de um palhaço é natural
(Sonhos de um palhaço - Antônio Marcos)